Acontecimento Histórico

Regresso a Portugal

Palácio Boaventura

Quatro anos após a proclamação da República, a situação política em Portugal era de tal modo grave que se receava uma guerra civil. Os monárquicos organizavam-se ora em Espanha, ora em Portugal, debatendo-se, com entusiasmo, pelo regresso da monarquia. A 19 de janeiro de 1919 obtêm um breve triunfo – uma monarquia que durou 24 dias!

As RSCM exiladas em Tui acompanhavam, com ansiedade, estas lutas sabendo que, do desenrolar dos acontecimentos, dependia o seu regresso a Portugal.

Em 1912 as RSCM deixaram o Colégio e alugaram uma casa na Rua de Cedofeita, onde permaneceram cerca de cinco anos. De 1917 a 1926 viveram na Rua dos Bragas. Acolhiam, de forma discreta, crianças pobres a quem ensinavam a instrução primária e lavores, hospedando, também, algumas alunas do Liceu e da Escola Normal.

Em Espanha os preços dos bens disparavam. Tanto na fronteira portuguesa como na espanhola, os géneros alimentares eram considerados contrabando e, portanto, sujeitos a rigorosa fiscalização. Sempre que lhes era possível, embora correndo alguns perigos, as RSCM do Porto atravessavam a ponte entre os dois países para apoiarem as irmãs exiladas. Muitos episódios interessantes se passaram na ponte de Tui!

Na década de 1930 Espanha atravessou grandes dificuldades económicas, decorrentes da Crise de 1929 e dos conflitos internos entre nacionalistas e comunistas que disputavam o poder entre si.  Os Republicanos, anticlericais, promoviam forte repressão à Igreja: em pouco tempo foram destruídas cerca de 20 mil igrejas e mortos 6 861 religiosos católicos (12 bispos, 4 184 padres, 300 freiras, 2 363 monges). Este tempo de violência ficou conhecido como o “Terror Vermelho”. 

As RSCM em Tui desejavam muito regressar ao seu país. Em Portugal a Igreja ainda não gozava de total liberdade, mas já se respirava uma relativa tolerância religiosa. Mesmo sem poderem tomar posse das suas propriedades, pouco a pouco, as religiosas foram regressando e tentaram retomar as atividades apostólicas, particularmente na área da educação.

Em 1920 a Madre Maria da Eucaristia Lencastre aceitou o desafio de uma fundação em Espinho. No dia 15 de outubro, quatro RSCM apoiadas por algumas senhoras leigas e pelo pároco, abriram o colégio de Nossa Senhora da Ajuda, para alunas internas e externas. Como era proibida a catequese fora das igrejas, as irmãs acompanhavam as alunas à paróquia para os atos religiosos e o ensino da catequese. A situação era muito delicada por causa da lei de separação da Igreja e do Estado e havia sempre quem tentasse apanhar as irmãs em alguma infração que justificasse o encerramento do Colégio. Para as irmãs não serem acusadas de obrigar as alunas a praticar a religião, os pais, no ato de inscrição, deviam declarar que desejavam a educação religiosa para as suas filhas.

A frequência do Colégio aumentou, chegando às 164 alunas internas. Para alojar tantas jovens as irmãs alugaram o salão de festas dos Bombeiros, no Largo da Igreja, e outras casas nas imediações do edifício central. Em 1924 foi inaugurado um pavilhão para aulas e, dois anos mais tarde, iniciou-se a construção de um novo edifício que não foi concluído por surgirem dificuldades com o projeto.

A abertura do Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto em 1926 e do Colégio de Nossa Senhora de Lurdes, na Guarda em 1927, contribui para a diminuição das alunas em Espinho. Em 1928 foi decidida a transferência do colégio para Aveiro.

Em 1921as RSCM regressaram a Braga, à “Roma Portuguesa”. Já não possuíam o edifício do Campo da Vinha, pelo que se instalaram-se, provisoriamente, na Rua das Carvalheiras nas dependências de um prédio que a Dª Maria do Patrocínio Queirós, lhes cedeu, gratuitamente.

A casa era pequena e pouco confortável, mas avançaram com o projeto. Começaram por informar a Direção Escolar dos seus objetivos e, de imediato, tiveram a visita do Inspetor que, segundo se dizia, era muito exigente e contrário à religião. A 10 de maio de 1921 abriram o Colégio de Nossa Senhora da Torre com cinco alunas internas e duas externas. Em outubro de 1921 as instalações mudaram para um Solar antigo, pertença dos Condes de S. Martinho. À medida que as alunas aumentavam tornou-se necessário alugar outras casas para dormitórios. Para esse efeito, a senhora Viscondessa da Torre cedeu parte do seu palacete no Largo das Carvalheiras.

Em 1946 foi inaugurado, na Rua D. Pedro V, o novo Colégio do Sagrado Coração de Maria – um edifício “construído segundo as modernas exigências de higiene e da pedagogia”, onde funcionava o Colégio, um Lar para estudantes do Liceu e da Escola Normal, e um Patronato para crianças pobres.

A 15 de outubro de 1926, a “luz escondida debaixo do alqueire”, no humilde convento da Rua dos Bragas – Porto, foi colocada “sobre o candelabro”, no magnifico palacete Boaventura, na Avenida da Boavista. Uma antiga aluna do “Colégio Inglês” – Dª Adelaide de Sousa Cambers – pediu ao irmão que alugasse a casa e o parque, às RSCM. Esta fundação foi colocada sob a proteção de Nossa Senhora do Rosário.

Por prudência, as RSCM ainda não vestiam o hábito religioso, mas já não precisavam de ocultar a sua profissão e podiam proporcionar às educandas, dentro do Colégio, a participação nos atos religiosos e a formação espiritual. À preocupação por uma boa formação, aliou-se uma orientação mais objetiva e mais eficiente do ensino: o programa dos Liceus foi adotado em todos os colégios do Sagrado Coração de Maria.

Quando, em 1943, se começaram a exigir exames de admissão à Universidade, o Colégio de Nossa Senhora do Rosário apresentou nove alunas a exame, nas Faculdades de Letras e de Direito, em Lisboa.

A partir de 1945, a frequência no colégio rondava as 300 alunas – número máximo que a casa e seus anexos comportava. Começou a impor-se a necessidade de construir um novo edifício e, dois anos mais tarde, foi adquirido, para esse efeito, um vasto terreno na Avenida da Boavista.

Kathleen Connel, RSCM – Uma Caminhada na Fé e no Tempo – História das RSCM, Vol 4
M de Chantal, Vidas Vivas