Cada Comunidade – Imagem da Casa Mãe

O Pe. Gailhac deslocou-se três vezes a Portugal – 1878, 1883, 1885 – para visitar as Irmãs e verificar se as comunidades refletiam o espírito da Casa Mãe, visto que, para ele, a comunidade de Béziers era o modelo de todas as fundações.
Na primeira visita, o Pe. Gailhac mostrou-se muito preocupado pelo facto das propriedades onde funcionava a escola e residiam as religiosas não serem pertença da comunidade. Já anteriormente tinha manifestado este seu sentir à M. St. Thomas Hennessy:
“… uma comunidade que não tenha casa própria é uma comunidade instável. Acho que é imprudente iniciar uma fundação sem comprar uma casa. Nunca mais voltarei a permitir uma situação semelhante. Fi-lo com relutância, mas estou muito preocupado. É urgente que tenham as vossas próprias casas no Porto e em Braga e devem fazer tudo o que puderem para o conseguir”. (GS/8/IV/77/A)
Nesse sentido, a Madre St. Félix – administradora do Instituto – que acompanhou o Pe. Gailhac na visita a Portugal, começou a dar passos para a compra da propriedade do Porto que, “com as casas existentes, pátios, jardim e quinta, perfazia uma área de cerca de trinta mil metros e cujo preço rondava os 36 mil reis, 199,800 fr”. Metade dessa importância devia ser paga de imediato pela Casa Mãe e o restante pela comunidade do Porto, em prestações anuais de 2 contos, durante nove anos, com juros à taxa de 5%.
A Madre St. Félix pediu emprestado, a um proprietário rico, aproximadamente metade do preço da compra – 110,00 francos – e, como garantia, hipotecou a propriedade de La Galiberte, perto de Bayssan, bem como o edifício do Bon Pasteur. Foram designadas seis religiosas para assinar o contrato, procedeu-se ao pagamento das taxas legais e, em janeiro de 1879, a propriedade da Praça Coronel Pacheco já pertencia às Religiosas do Sagrado Coração de Maria.
Quase de imediato, a comunidade do Porto retomou os planos em ordem a abrir uma escola elementar gratuita, destinada a crianças de famílias de classe média baixa. Margaret Hennessy sonhava há muito com este projeto. Em junho de 1877, escreveu à Madre St Croix:
“Acabo de ver o anúncio de uma casa para alugar e já pedi informações sobre o assunto. Penso que não está fora das vossas possibilidades. Farei uma experiência durante um ano, só com a propina que os rapazes pagarem. Poderei ir lá duas vezes por semana. Esta ideia tem estado muito presente desde o início de junho e, por essa razão, penso dedicar a escola ao Sagrado Coração de Jesus. Se for bem sucedida, como espero, poderão adquiri-la; caso contrário, irá para quem estiver interessado”.
Margaret Hennessy para M. St Croix – 9 de junho de 1877
Algum tempo depois da compra da propriedade no Porto, dava-se início à escola para a classe média baixa. A casa tinha ligação com a Academia Inglesa, através de um corredor coberto, mas as duas escolas eram independentes uma da outra. Era uma escola elementar, embora se lecionassem, também, algumas matérias da escola secundária, tais como costura e bordados.
Faltava ainda uma escola para pobres e esse tinha sido, sempre, o desejo das religiosas. Quando a M. St Thomas foi informada, pela primeira vez, sobre o plano de uma fundação em Portugal e do envio de uma comunidade para dirigir a Academia Inglesa no Porto, escreveu a Gailhac: “Gostaria de saber se há um orfanato e uma sala de aulas para pobres. Nesse caso teríamos a garantia de sucesso.” (M. St Thomas para Pe. Gailhac – 30 de outubro de 1871)
A sua irmã Margaret, diretora da escola, era da mesma opinião e, desde 1875, angariava fundos para este projeto, tomando como modelo as obras da Casa Mãe.
A M. Ste Croix apoiou totalmente o plano de Margaret Hennessy. Numa carta em que apresentava a diretora ao cônsul de França, dizia que, embora a Academia Inglesa tivesse sucesso, considerava incompleto o trabalho das Irmãs: “as nossas religiosas também devem dar atenção aos mais pobres”.
Assim que a comunidade tomou posse da propriedade, não perdeu tempo e abriu, de imediato, uma escola para os pobres. Gailhac estava totalmente a favor dessa iniciativa e, numa carta à M. St Thomas, confirmou-o, dizendo: “autorizo, do fundo do meu coração”. A sua única preocupação era saber como é que a comunidade, já sobrecarregada com tantas dívidas, conseguiria o dinheiro para mais esta aventura. Sugeria que usassem as salas do rés-do-chão da escola dos rapazes. As crianças pobres podiam movimentar-se de um lado para o outro através da porta exterior sem terem de entrar no edifício. Terminava a carta com um conselho prático: “Façam a abertura da escola para os pobres com grande solenidade, a fim de atrair donativos que permitam a sua continuidade”.
A escola abriu efetivamente e, de acordo com os desejos do Fundador, era fornecida às crianças uma refeição diária e, algumas vezes, também lhes ofereciam roupas. Em 1892, a M. St Thomas realizou o sonho que acalentava havia mais de vinte anos – a comunidade abriu um grande orfanato, precisamente do outro lado da rua, em frente das escolas.
Mais tarde, quer pela necessidade de espaços mais amplos para evitar aglomerações pouco saudáveis, quer pelo crescimento da escola, Gailhac e a M. St Félix concordaram com a comunidade sobre a necessidade de ampliação do edifício da Praça Coronel Pacheco.
Durante a segunda viagem que o Pe. Gailhac e a M. St Félix fizeram a Portugal – 1883 – encontraram-se com o arquiteto, autorizaram as reparações mais urgentes e a construção de um novo piso no edifício. Para a M. St Félix era uma despesa necessária e rentável. Mais tarde, recordava: “A pequena comunidade tornou-se muito próspera. A escola é hoje considerada uma das melhores na cidade do Porto”.
Kathleen Connel, RSCM – Uma Caminhada na Fé e no Tempo – História das RSCM, Vol. 3