Poemas da Irmã Maria Antónia Quinteiro, rscm
GAILHAC SONHOU Como mãos dadas em jeito de ser, a Vida nasceu! E eu, bem dentro do sonho, sinto e percebo a força do Corpo que é meu. Acolho e vou … O caminho jamais se fechou! Vou! Há muito a semear, fronteiras a abrir, torres a derrubar, pontes a construir. É tempo de recriar e continuar a sonhar! O coração não morreu, os pés poderão andar, é questão de caminhar, porque a Vida é para dar.
GUARDAR NO CORAÇÃO Coração, espaço de encontro, de intimidade, fonte do ser e do querer. Raiz do dom, do entregar-se sem condições. Energia que anima e dinamiza, paz que escuta e guarda com sabedoria. O coração sabe “cuidar”, contemplar ativamente, descobrir novidade no misterioso olhar de Deus. Maria guardou no coração acontecimentos e palavras, luzes e sombras, alegrias e tristezas. Guardou, não fechou, porque fechar é esconder, e talvez deixar morrer. Guardou! Tocou com amor, expôs tudo à luz, ao calor do SOL. Deixou iluminar, aquecer com ternura, e então percebeu!
ESPAÇO Uma janela, uma flor, uma intimidade aberta em casa simples e pobre! Lugar de anunciação, de visitação, e de abertura à comunhão e à esperança.
É PRIMAVERA Veste-se a terra de festa, frescura, movimento, cor, música simples e pura impulso, força, vigor certeza que nos faz crer num constante renascer. É Primavera! Tudo vai desabrochar! Um mistério de união abre-nos o coração desafia a sonhar! Sonhar a dança da VIDA que jamais pode parar; passo a passo, mão na mão, entrar bem dentro do mundo, um campo vasto, profundo, purificando a visão. E olhar… Tocar o rosto magoado de quem não é convidado para a mesa da Esperança. Dizer-lhe com alegria: Chegou o dia, avança! Escutar de perto a voz, no longe que às vezes tem, dos silêncios prolongados nunca ouvidos por alguém. Segredar-lhes com ternura: a festa é vossa também! Estamos convosco aqui! Demos as mãos p’ra dançar! A Primavera vai chegar.
DEUS Na melodia do silêncio ouço a “Palavra”, sem palavras, que “Te diz”. Na suavidade da brisa sinto a leveza de Teus passos tocando o solo que eu piso. És ternura, feita carne, a percorrer o meu caminho. Impercetível, abraças a terra que criaste. És mistério que se dá, envolve e chama! Acolhes, em Teu seio, a nudez do finito e no vazio geras VIDA. És a Fonte e a Corrente, o Longe e o Perto, a Origem e o Fim.
NAS ASAS DO SONHO E na alegria de ver Sementes a germinar Prossigo a aventura do sonho Enquanto é tempo de dar. Rio, louvo, espero, amo Abro janelas ao vento Repito, baixinho, este canto: É urgente acreditar! Reabrir a fonte de ser E sonhar, sonhar ... Nascer em tons de alvorada Abraçar a terra e mar Semear VIDA em mão dada Com o mundo, em mim, a girar. Escutar dia e noite, sol em cada amanhecer Regressar, para beber, e não deixar de sonhar!
PÃO Pão é grão, terra, água, caule, folha e fruto. É cor verde, dourada, queimada, ressequida. Alegria e dor, vida e morte várias mortes para dar VIDA: morre a semente, o caule, o fruto que em farinha se transforma... farinha amassada e cozida pelo calor... para ser comida. Pão é mão humana que semeia, trata, colhe, transforma e come: esperança e desencanto, energia e cansaço sol e chuva, dia e noite, partilha e recusa, abundância e fome, entrega e indiferença, força e fraqueza, riqueza e pobreza. Pão sou eu que estou aqui: é parte de mim, do meu ser total, físico, psíquico, espiritual. Pão somos nós que vivemos juntas: mãos que se dão ou se recusam corações abertos ou tristemente fechados. Olhos luminosos ou sombrios pés em movimento ou simplesmente parados. Pão é cadeia interminável de gente que vive a cantar ou subsiste e morre a chorar neste belo planeta azul onde há luz, música e aves a chilrear... Pão é sinal visível da VIDA em Cristo Jesus, Pão Vivo descido do céu para saciar todas as fomes.
