Colégio Inglês, Rua da Fábrica, 1871 – 1872
A comunidade tinha, apenas, alguns dias para preparar o regresso das alunas depois das férias de verão.
O Comércio do Porto anunciou as inscrições para alunas internas e externas e a reabertura da Academia Inglesa a 2 de outubro, com 12 alunas internas e 90 externas. Como as RSCM eram poucas e não sabiam português, Miss Hennessy continuou como diretora.
Entretanto, a presença das religiosas tornou-se conhecida na cidade. Os pais ficaram preocupados porque, como burgueses liberais, tinham aversão às religiosas, desde que as congregações foram expulsas de Portugal, no tempo de D. Pedro IV. Começaram, então, a tirar as filhas, tendo ficado apenas 6 alunas internas.
Sucederam-se planos de incêndio do edifício: “Os seus inimigos perseguem-nas de muitos modos, até ao ponto de procurarem incendiar o convento. Finalmente, as religiosas hasteiam a bandeira inglesa para as proteger e tal expediente resultou, pois, renunciaram aos intentos criminosos”. (Pe. Maymard)
Com esta insegurança, acabaram por ficar apenas duas alunas pois, mesmo os pais que teriam sido favoráveis à presença das religiosas na escola, começaram a recear pela segurança das filhas.
A Madre Saint Marie escreveu ao fundador, pedindo para a comunidade deixar Portugal e regressar a França. O fundador respondeu-lhe, dizendo: “Fiquem onde estão, mesmo com apenas uma aluna. Jesus, o Bom Pastor, dá a vida por cada um”.
As notícias desta fundação agradaram, particularmente, à Madre Saint Thomas Hennessy, que estava em Lisburn. Numa carta ao fundador, dizia:
“Onde a religião quase se extinguiu,
há necessidade desta fundação
para que a fé seja reavivada nos jovens e, através deles,
os adultos possam regressar a melhores sentimentos”.
E acrescentava:
Gostaria de saber se, na escola, há um orfanato e uma escola para pobres.
Então, teríamos a garantia de sucesso, mas penso que devemos avançar cuidadosamente, no princípio, para não atrair demasiada atenção”.
Esta observação é significativa porque demonstra que, desde o início, o objetivo das Religiosas do Sagrado Coração de Maria era a educação de todas as classes da sociedade – as que podiam pagar em internatos ou externatos, bem como as crianças pobres em escolas nacionais, paroquiais ou de órfãos
Seis meses depois da chegada das RSCM a Portugal, a Madre Saint Thomas foi informada que a sua presença era necessária no Porto, para ajudar a fortalecer quer o ministério quer a vida de comunidade. A Madre Saint Gabriel, ainda jovem, adoecera e tinha de regressar a Béziers onde morreu meses depois; a Madre Saint Marie também não estava muito bem. A mudança de clima e as tensões dos primeiros meses tinham afetado a sua saúde. O Journal lembra que, durante o primeiro ano, algumas religiosas adoeceram, por ser doentio o local em que se encontrava a Academia Inglesa, na Travessa da Fábrica. A situação tornou-se tão critica que, Margaret Hennessy escreveu ao Fundador a pedir licença para levar as irmãs para uma casa de campo, durante algumas semanas. Além disso, as instalações eram pequenas e pouco iluminadas.
A uma Irmã que começava a sofrer de claustrofobia o Pe. Gailhac encorajava-a a procurar meditar na imensidade do céu:
“Lá seremos livres. Não haverá paredes. E veremos, não apenas uma nesga, mas o céu todo, banhado na eterna luz…estaremos em Deus e Deus em nós…Ande na presença de Deus e não viverá mais num espaço estreito, mas, ao contrário, no infinito. Em vez de olhar à sua volta, olhe para o seu interior. Deus habita no seu coração… Acha que Ele se sente aí apertado?”
Os professores portugueses e estrangeiros eram leigos e as alunas referiam que tinham senhoras leigas como moderadoras.
Esta fundação portuguesa foi a primeira a fazer face a um importante desafio: como manter e desenvolver a identidade religiosa num ambiente secular, no meio de um grande número de leigos, sem a defesa do convento e do hábito, como sinais exteriores.
A Madre Saint Thomas chegou ao Porto na primavera de 1872 com mais duas religiosas da comunidade da Casa Mãe. No início de 1873 foi nomeada superiora da comunidade.
Uma Caminhada na Fé e no Tempo- História das RSCM, Vol IV
